Morfe ou morfema?
– Um morfema
é uma «unidade mínima de significação, de natureza gramatical ou
lexical» (DLPC); é de natureza abstrata e tem valor gramatical
distintivo. – Um morfe constitui a realização do morfema. Muitos
morfemas são realizados por um único morfe; por exemplo, na palavra
cantar, temos o morfe {cant-} (representado com chavetas), que se mantém
ao longo da conjugação: canto, cantei, cantava… – Fala-se em alomorfe,
quando um morfema é realizado por dois mais ou mais morfes diferentes;
p. ex., em Portugal, o morfema nov- que ocorre em novo tem dois
alomorfes (de novo representados com chavetas): {nôv-} em novo e {nóv-}
(com [ó] aberto) em nova. – Os problemas na descrição dos morfes
conduziram mais tarde à criação de mais termos. Um morfe “portmanteau” é
um traço formal que pode ser atribuído a mais do que um morfema; por
ex., em fiz (1.ª pessoa do pretérito perfeito do verbo fazer) temos como
que uma amálgama de três morfemas diferentes, um que é relativo à 1.ª
pessoa do singular (eu); outro, pertencente ao pretérito perfeito; e
finalmente um terceiro, que indica o modo indicativo.
O morfe vazio
consiste na ocorrência de um traço formal que não corresponde a nenhum
morfema; p. ex., em cafeteira surge um {t} que não se pode associar a
nenhum morfema.
Um morfe zero
corresponde à inexistência de traços formais que marquem um dado
morfema. Por exemplo, na palavra mar pode-se deduzir um morfema zero a
partir da forma do plural mares. Com efeito, o plural (correspondente ao
acrescentamento de um s) permitiria supor que o singular fosse mare, em
que {-e} poderia ser interpretado como estando a representar um morfema
do singular. Contudo, o que existe é mar, sem -e final, pelo que, em
termos teóricos, se assume que há um morfema que não tem materialidade
fonética – em suma, estamos perante um morfe zero.
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